"É um impossível físico e moral Portugal governar o Brasil, ou o Brasil ser governado por Portugal. Não sou rebelde (...) são as circunstâncias."
D. Pedro, príncipe regente do Brasil, em carta ao pai, D. João VI, rei de Portugal, em 26 de julho de 1822.
A independência do Brasil não foi bem como a retratada no quadro do pintor Pedro Américo, foi bem mais prosaica tendo em vista que D. Pedro não montava um alazão e estava com dor de barriga quando parou às margens do Ipiranga. Mas é uma História riquíssima de como um país que tinha tudo para dar errado, em 1822, chegou a este grande país unificado e que apesar de tudo, deu certo, de hoje. Eu aconselho a leitura do livro 1822, de Laurentino Gomes (não sem antes ler 1808, do mesmo autor), para entendermos as circunstâncias em que esta independência se deu.
Aqui reproduzo um pequeno trecho da introdução do livro:
"No ano de sua independência, o Brasil tinha, de fato, tudo para dar errado. De cada três brasileiros, dois eram escravos, negros forros, mulatos, índios ou mestiços. Era uma população pobre e carente de tudo, que vivia à margem de qualquer oportunidade de uma economia agrária e rudimentar, dominada pelo latifúndio e pelo tráfico negreiro. O medo de uma rebelião dos cativos assombrava a minoria branca. O analfabetismo era geral. De cada dez pessoas, só uma sabia ler e escrever. Os ricos eram poucos e, com raras exceções, ignorantes. O isolamento e as rivalidades entre as províncias prenunciavam uma guerra civil, que poderia resultar na divisão do território, a exemplo do que já ocorria nas vizinhas colônias espanholas. Para piorar a situação, ao voltar a Portugal, em 1821 - depois de 13 anos de permanência no Rio de Janeiro-, o rei D. João VI havia raspado os cofres nacionais. O novo país nascia falido. Faltavam dinheiro, soldados, navios, armas e munição para sustentar a guera contra os portugueses, que se prenunciava longa e sangrenta. As perspectivas de fracasso, portanto, pareciam bem maiores do que as de sucesso.
Este livro procura explicar como o Brasil conseguiu manter a integridade do seu território e se firmar como nação independente por uma notável combinação de sorte, acaso, improvisação, e também de sabedoria de algumas lideranças incumbidas de conduzir os destinos do país naquele momento de grandes sonhos e perigos. O Brasil de hoje deve sua existência à capacidade de vencer obstáculos que pareciam insuperáveis em 1822..."
(1822, Laurentino Gomes, páginas 17 e 18)
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